TransArte

Projeto inscrito para o I Encontro TransArte. Aguardando resultado, que sai dia 21/10/2011.

Auto-retrato improvisado para capa do Projeto

PROPOSTA DE PROJETO CULTURAL “LABIRINTO DE DESEJOS”

Resumo
Livre adaptação para o teatro da cinegrafia do espanhol Pedro Almodóvar, diretor considerado underground nos anos oitenta. Muito aclamado e muito criticado por suas temáticas incomuns, por seus personagens marginais, pela sua estética escandalosa. Escolha do bacharelando em Artes Cênicas da Universidade de Brasília, Kael Studart, como projeto de encenação e dramaturgia para a disciplina Direção, orientada pelo Professor Jesus Vivas. Com preparação de quatro meses para estréia no I Encontro TransArte ou Cometa Cenas. Primeiramente, procurando atingir a comunidade universitária para, depois, seguir a outros auditórios escolares e universitários, para disseminar idéias contra a discriminação e à favor da naturalização das minorias.
A busca não é apenas a de fazer uma homenagem ao diretor, copiar sua estética, mas expressar em forma de teatro o que Almodóvar diz desde o final dos anos setenta. Usando de tudo o que é excluído e considerado errado pelos puritanos e pela sociedade padronizada. Considerações naturalistas diante das mulheres, homossexuais, travestis, transexuais: estes são os personagens centrais e heróis desta história chamada “Labirinto de Desejos”.

Apresentação
“Labirinto de Desejos” é um espetáculo teatral inspirado na obra do espanhol Pedro Almodóvar. Uma livre adaptação de seus filmes, contos, romances, englobando todo o universo deste aclamado cineasta. Trata das dificuldades cotidianas em que minorias marginais enfrentam numa sociedade machista. Homossexuais, travestis, transexuais, metrossexuais, sado masoquistas e, principalmente, as mulheres são os protagonistas desta peça. Com a tentativa de tratar o enredo em suas peculiaridades e se afastar de moralismos tradicionais. Num universo realista e quase melodramático. É como se comunica Almodóvar, mostrando o quanto minorias sociais são de enorme grandeza e simplicidade. Neste universo, que mais parece estar fora do nosso plano real, humildes donas de casa expurgam sua devassidão, transexuais usam Chanel, homens lutam não pela auto-afirmação, mas lutam pela fragilidade, pelo amor. Todos com desejos reais de viverem como querem, como são.
Uma homenagem, ou livre adaptação, o espetáculo usará alguns artifícios “almodovarianos” para aproximar-se de seus conceitos: cores vivas e primárias, diálogos afiados, mulheres independentes, shows e cenas na cena, vulgaridade e tosquice, músicas cafonas (brasileiras), toda uma miscelânea da trajetória de mais de vinte anos de Almodóvar condensada em uma horas de puro teatro. Diálogos tirados de uma realidade madrilenha, adaptados ao nosso cotidiano, ao que nós brasileiros passamos, ao que nós brasilienses vivemos, mas que preservam os questionamentos. E com ajuda bibliográfica de alguns autores, como as entrevistas com Frederic Strauss, “Conversas com Almodóvar”, bem como absorção da tese do Professor Doutor da UnB, Belidson Dias, “O I/Mundo – da Educação em Cultura Visual”, onde analisa a cultura visual na educação brasileira à partir da “transarte” de Almodóvar.
Do cinema e dos livros ao espetáculo ao vivo. Em carne e osso. Diálogo direto entre arte e espectador, movimentação cênica, utilizando estilo melodramático, passando pelo realismo televisivo, indo ao humor ruborizante. Sete atores dão forma à encenação, junto à quatro televisões que compõem o cenário e projetarão os detalhes da cena teatral, sendo as imagens  captadas ao vivo. Estética kitsh, colorida e estampada que dão leveza ao drama, ou enfatizam sentimentos à flor da pele dos personagens, que se expressam sem nenhuma vergonha de seus desejos. Canções de grandes intérpretes, musas da música brasileira, serão dubladas pelos atores, sem preocupação com gêneros dos corpos e suas apropriações. Roberta Miranda, Gal Costa, Diana, Maria Bethânia, Baby do Brasil farão todo o preenchimento sonoro. Uma celebração ao poder da mulher, suas fraquezas e força de vontade.
“Labirinto de Desejos” é o encontro de Pedro Almodóvar com os brasilienses. Fora das telas, aproximado das pessoas. Encontro que gere intercâmbios de linguagem e de valores. Tentando mostrar o quanto somos iguais e distintos em nossas individualidades.

Justificativa
Espetáculo em que todos os personagens, sem exceção, são alvo de descriminação por uma sociedade normativa. Pessoas etiquetadas e julgadas por seu estilo de vida, por suas vontades, por seus gostos, merecem não precisar mais questionar suas vidas. Merecem viver como todos, amar como todos. Todos somos capazes de possuir todos os sentimentos que qualquer ser humano é capaz de sentir. Todos somos capazes de fazer qualquer coisa. E arte inclui a todos, as histórias contadas são para todos. Histórias não mais contadas por loiras com bunda grande e “machos alfa” com cara de bom moço. Arte feita por gente que existe em todos os cantos, pessoas autênticas.
Este espetáculo é repleto de críticas da sociedade padronizada, da repressão religiosa, contra a hipocrisia dos conservadores. Elementos apropriados de um artista que está distante de Brasília fisicamente, mas que se aproxima extremamente dos nossos questionamentos sociais. Levando abertamente e gratuitamente a quem quiser ver e entender o que passam pessoas que estão à margem da sociedade. Uma pessoa que muitas vezes não pode nem contar com sua própria família, com o que poderia ser o principal porto-seguro. E não pode contar porque ainda estamos cegos pelos valores cristãos e de moral reducionista. A luta não é apenas por aceitação, é por sobreviver tranquilamente. Já temos muito com o que nos preocuparmos: como conseguir comida, pagar impostos, lidarmos com nossos próprios egos, com nossas emoções. Descriminações que apenas servem para termos problemas a mais, e nós não precisamos deles.
E é exatamente o que compreendo sobre o I Encontro TransArte, que é mostrar o quanto todos somos seres humanos, dignos dos mesmos direitos, coletivos no mesmo Planeta Terra. “Labirinto de Desejos” é um espetáculo cujos problemas de descriminação não existem mais. Uma história em que mulheres subestimadas, homossexuais negligenciados, travestis e transexuais considerados por “cidadania de segunda categoria”, são pessoas que não questionam mais seu espaço, suas condições, e sim seus amores, seus fracassos, suas mudanças, suas refeições, seus comuns cotidianos. Se formos considerar, todos somos imperfeitos, e felizes aqueles que aceitam esta condição. Ninguém pode ser perfeito. Feliz daquele que pode ser o que é. E “Labirinto de Desejos”, assim como Almodóvar, expressa que o desejo é bem maior que a moral.
  
Objetivos
- Realizar a montagem do espetáculo teatral “Labirinto de Desejos”, adaptação da cinegrafia de Pedro Almodóvar, que terá estréia na cidade de Brasília.
- O projeto prevê uma(1) apresentação do I Encontro TransArte e três(3) apresentações do Cometa Cenas, ambos eventos relacionados à Universidade de Brasília, totalizando quatro(4) apresentações no ano de 2011.
- Apresentações gratuitas, abertas à comunidade universitária e brasiliense, democratizando espaço para reflexão e discussões sobre os temas propostos pelo TransArte.
- Estimular pensamentos de “anti-discriminação” e o interesse por produções que defendem idéias de liberdade de expressão.